Artigo

Novo artigo de Rogério Manita a propósito do relatório da OCDE Balancing School Choice and Equity | New article by Rogério Manita on the OECD Balancing School Choice and Equity report

Colégios só com ‘gente rica’

O Relatório da OCDE Balancing School Choice and Equity vem procurar demonstrar que Portugal é um dos países onde o ensino privado é mais elitista. Não se estranha, uma vez que Portugal está entre os dez países da OCDE onde os salários são mais baixos, como mostra o relatório ‘Perspetivas de Emprego 2016’, enquanto no de 2018 se afirma que o crescimento salarial permanece mais baixo do que antes da crise financeira e que a pobreza tem crescido na população em idade ativa. A própria OCDE num estudo sobre a classe média reconhece que, no conjunto dos países que a integram, tem ocorrido a sua progressiva diminuição e que a degradação da sua qualidade de vida tem favorecido os mais ricos que cada vez mais acumulam nas suas mãos maior percentagem da riqueza produzida.

Sabe-se que a liberdade de escolha em Educação é uma opção política e, pelo que se vai percebendo por insuspeitos autores[1], parece não ser a opção mais acertada para o nosso país, que investiu na Educação pública procurando nele possibilitar a Escola para todos. De facto, é-se de opinião de que o financiamento só deve ser atribuído a colégios situados em zonas onde não exista oferta pública para que não ocorra o que aconteceu nos tempos de crise em algumas regiões, com Escolas públicas sublotadas e colégios privados cheios, pela ineficiência que gera em todo o sistema. Depois, sublinhar a ilação mal retirada segundo a qual os diretores ‘admitiam usar a performance académica como critério de admissão’ dos alunos nas escolas. Requer-se que a análise dos relatórios se faça com sentido crítico e se estranhe, por exemplo, que um item tenha de um relatório para outro diferença na ordem dos 30%.

Sabe-se que nestes relatórios internacionais ocorrem algumas vezes erros por tradução incorreta, como o descrito, outros dão-se por ausência de perceção de realidades regionais  e outros mesmo acontecem por falhas na transmissão de dados, algumas vezes propositadas respeitando determinados ‘pedidos’.

Tal fez lembrar o que recentemente ocorreu quando, de um relatório para outro, os professores portugueses passaram a ser ‘quase os mais bem pagos’ de toda a OCDE. A comparação mostrava que estarão em linha com a média, mas as notícias enfatizavam a comparação dos seus ordenados com os dos outros licenciados portugueses. Rogério Manita. Biólogo, Mestre em OT e Planeamento Ambiental, PhD em Educação, Professor do EBS.


[1] Ravitch, D. (2011). Vida e morte do grande sistema escolar americano. Como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a Educação. Porto Alegre: Editora Sulina.

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