Novas Oportunidades e Velhas Enormidades | New Opportunities and Old Enormities
Alberto Melo. Artigo publicado em novembro de 2012
Passando por cima do longo e rigoroso trabalho de avaliação do Programa Novas Oportunidades, levado a cabo ainda recentemente por uma equipa de investigadores da Universidade Católica, coordenada por Roberto Carneiro, o governo decidiu acabar com este processo. Não para o substituir por um modelo mais ajustado e inovador, senão para ressuscitar o velho e desacreditado “ensino recorrente”. Para isso, socorreu-se de um estudo encomendado ao Instituto Superior Técnico (e quando é que se encomenda ao Instituto de Educação uma avaliação do Tagus Park?) onde se concluía que a participação num Curso Educação e Formação de Adultos (EFA) ou num Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CNO) não produzia emprego nem promoção profissional ou salarial. Ora, se estas modalidades de educação-formação de adultos não foram criadas com tal objectivo, é natural que não produzam tais efeitos. Já o trabalho acima citado da Universidade Católica chegara à mesma conclusão (podiam ter economizado verbas públicas em tempos de contenção orçamental), acrescentando no entanto que os resultados eram positivos ou muito positivos relativamente aos outros mais de 40 indicadores previamente definidos pela equipa de trabalho. De facto, efeitos desejados por qualquer sociedade moderna, como ganhar maior auto-estima e auto-confiança, que permita encetar um processo de aprendizagem ao longo da vida, despertar a curiosidade e a vontade de saber sempre mais, iniciar-se na informática, adquirir uma maior consciência cidadã, passar a apreciar o estudo e a busca de novos conhecimentos e transmitir essa atitude aos filhos, etc., têm sido unanimemente confirmados naqueles e em demais estudos sérios e independentes realizados sobre este processo, desde que ele se iniciou em 2000, com a ANEFA. E, se ele surgiu, após decisão governamental de 1997 e uma fase preparatória e experimental, foi por clara necessidade de substituir o ineficaz e caríssimo “ensino recorrente”: um estudo encomendado em 1998 pelo Ministério da Educação sublinhava a desastrosa taxa de abandonos neste dispositivo, assim como o facto de um adulto que conseguisse terminar o 12º ano por esta via ter custado ao erário público o mesmo que um estudante de Medicina. Alberto Melo
*In Melo, A. (2012). Passagens revoltas 1970-2012. 40 anos de intervenção por ditos e escritos, p. 523. Faro: Associação In Loco