Artigo

Que escola temos? Que escola queremos? | What school do we have? What school do we want?

Luisa Lobão Moniz. Artigo publicado em fevereiro de 2012

Escola. Educação. Muitos de nós fizemos a nossa escolaridade numa escola em que quando se tinha dificuldades de aprendizagem se chorava porque os castigos físicos e psicológicos eram inevitáveis: repetir 50 vezes as tabuadas, fazer 10 cópias, decorar o aparelho digestivo, ir para uma carteira ao fim da sala…
Decorar, decorar era a norma. Rapazes e raparigas, de pé, repetiam tudo, sem nexo e sem perceberem. Porquê 3X4 = 12, o que é o 3, o que é o X? Porque se escreve uma vírgula ou dois pontos?
Ler e decorar, ler porquê e para quê? Interpretar sim, mas seguindo sempre o mesmo esquema de pergunta e resposta, ou seja a chamada “chapa 24”.
A lista deste clima pedagógico poderia ser infindável, até, a título de exemplo: não poderás ser cientista porque és mulher!...
Falar de escola e de educação poderia ser fácil se os paradigmas fossem idênticos, se a finalidade da escola fosse formar cidadãos livres.
A Revolução dos Cravos trouxe a liberdade de agirmos em prol de uma sociedade mais igualitária e livre e, para isso, a escola repensou-se e acreditou que poderia mudar as mentalidades, e pode, porque todos os sistemas políticos moldam a escola de forma a esta ser consentânea com os seus objectivos.
O que está em causa não é a escola ou a educação, mas sim as finalidades dos governos, dos ideais políticos. Conforme os objectivos assim se aprovam estatutos do aluno do ensino não superior. Convém não esquecer que o partido que está no governo apresentou a proposta de penalizar os pais pelos comportamentos dos filhos (o castigo volta a ser o melhor método pedagógico). Conforme a sociedade que se quer construir assim se mudam os currículos, assim se dispensam professores aos milhares, assim se aumenta o número de alunos por turma…
Conforme a função que cada um deve exercer na sociedade assim repõem exames nacionais, assim se instituem rankings.
A escola, como casa de aprendizagem, está a dar lugar a um aglomerado de estabelecimentos com directores fortalecidos por uma legislação cega pela monitorização, com um corpo docente anónimo, com um clima pedagógico que não responde aos diferentes ritmos de aprendizagem, em que o diálogo e a participação dos alunos na vida escolar não têm expressão.
Desde o 25 de Abril até agora formaram-se muitos cidadãos válidos para a sociedade, veja-se o número de profissionais qualificados, em diversos ramos do saber, que encabeçam a lista dos melhores em…, em … Nunca a sociedade portuguesa teve tantos cidadãos alfabetizados. Quem disse que em trinta anos se podia construir um sistema de ensino com efectiva qualidade para todos? A escola de massas não é desculpa para que a qualidade não tenha sido assegurada, mas é uma realidade e ainda bem que o é.
Com a escola de massas aprendeu-se que a escola ainda tinha muito para modificar, não o aumento de alunos por sala mas pela sua redução, não menos professores mas mais professores e especializados em diversos saberes.
Ensinou que as horas da escola a tempo inteiro têm que ser revistas, que a articulação entre ciclos tem de ser feita. Ensinou que a disciplina ou a indisciplina, a convivência ou os comportamentos desadequados não se resolvem só com castigos, mas com diálogo, não com a culpabilização de alunos ou pais mas com a colaboração de todos.
A escola e a educação são assim, são aquilo em que se acredita. Luisa Lobão Moniz (Professora do 1º Ciclo E. B., Mestre em Educação Intercultural)

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